terça-feira, 23 de outubro de 2018

TENTANDO ENTENDER, CASO HAJA FUTURO



A Fake News é uma MENTIRA QUE PARECE VERDADE.
Há vários modelos de Fake News e há grupos especializados na sua produção.
A Fake News atual não é somente uma notícia enganosa. Mas uma criação deliberada para estimular o ÓDIO.
Trata-se da atualização, para o mundo das redes sociais, de um modelo antigo de demonizar inimigos.
Para funcionar, ela precisa imitar uma notícia de jornal escrito, um vídeo produzido por um telejornal ou no modelo vídeo-aula.
Há muitos modelos e formas de criação de notícias falsas e elas atingem as pessoas através de uma conexão subjetiva entre os valores do receptor e o conteúdo falso.
Essencialmente são explorados os preconceitos e os ressentimentos diversos tornando o receptor uma caixa de ressonância que amplifica e generaliza o conteúdo falseado.
Nem sempre se trata de uma ‘notícia’, por vezes o que se vê é a construção de uma situação com fins bastante específicos.
Um dos modelos, para vídeos curtos, funciona mais ou menos assim:
1. Cria-se / expõe-se uma situação que causa grande repugnância moral.
2. Depois de o receptor estar bem impactado, procede-se a uma generalização que termina por relacionar o objeto da repugnância a um grupo, partido político, movimento social ou a uma temática específica.
3) Faz-se uma indagação ao espectador que gera uma ansiedade (preciso fazer alguma coisa – pelo menos compartilhar com outros): “É este o país que queremos?”; “É isto que queremos ensinar às nossas crianças?”
4) O final, como desfecho disto tudo, diz o que se deve fazer para atender à expectativa gerada no momento de ansiedade: “Basta!”; “Temos que tomar nosso país de volta” etc. “Se você concorda com estas ideias”, “Se você é contra esta roubalheira (depravação, imoralidade) compartilhe este vídeo”.
5. Derradeiramente só uma música de fundo e uma imagem; pode ser a bandeira do Brasil ou algo que dê a sensação de ordem, assim por diante.
Um exemplo fictício de um vídeo neste formato.
1. O vídeo começa lento e narra, com imagens, que um “artista”, sem localizar tempo e espaço (contexto), certo dia resolve fazer cocô num potinho transparente e chamar o resultado de “obra de arte”.
É importante que esta primeira informação tenha uma base real, ou seja que o caso tenha realmente acontecido, ainda que seja narrado de maneira distorcida.
Utilizando imagens reais de algum arquivo, ou criadas / montadas, ressalta-se a exposição do artista focalizando sua “obra” e sua postura um pouco sádica, um pouco cínica, até o espectador ficar horrorizado, enojado com a situação.
2. A partir daí o vídeo acelera e passa a narrar algo como “Há algum tempo artistas depravados vêm tentando impor à sociedade sua visão de mundo distorcida”. Uma profusão de imagens de Arte Moderna passam rapidamente na tela, ressaltam-se cenas de desproporção, nudez e sexo.
3. O desfecho dependerá do objetivo do vídeo. Se for para desautorizar a fala de qualquer artista, projetam-se as imagens de artistas contemporâneos e insinua-se que tudo isto se faz com dinheiro público. Se o interesse estiver em associar a “arte degenerada” a um grupo político, encadeia-se entre as imagens fotografias de líderes pertencentes a este grupo em situações que insinuem o deboche em relação à população.
O funcionamento depende, então, de uma verdade original contida num potinho de cocô, de uma generalização absurda, e de um público preconceituoso ou ressentido, que se sinta inferiorizado por uma arte que não compreende.
O mesmo mecanismo é usado para os mais diversos contextos.
A imagem disparadora pode ser de um filme pornográfico onde algum símbolo religioso que seja usado, neste contexto, por mulheres, por exemplo.
A generalização fará desqualificar toda a luta das mulheres contra a desigualdade e a violência física e simbólica, desconsiderando as grandes conquistas humanitárias operadas pelo movimento feminista em diversos contextos. Um movimento que luta pelos direitos das mulheres, mas que também ajuda os homens a crescerem como seres humanos.
Além do processo de generalização, há, claro, mentiras mais deslavadas ou diretas como a história do kit gay.
Se houver futuro, teremos que pensar em como fazer para que as pessoas não fiquem tão vulneráveis a este tipo de engodo aparentemente simplório, mas que gera alienação, ódio e morte.


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