A Fake News é uma MENTIRA QUE
PARECE VERDADE.
Há vários modelos de Fake News e
há grupos especializados na sua produção.
A Fake News atual não é somente
uma notícia enganosa. Mas uma criação deliberada para estimular o ÓDIO.
Trata-se da atualização, para o
mundo das redes sociais, de um modelo antigo de demonizar inimigos.
Para funcionar, ela precisa
imitar uma notícia de jornal escrito, um vídeo produzido por um telejornal ou
no modelo vídeo-aula.
Há muitos modelos e formas de
criação de notícias falsas e elas atingem as pessoas através de uma conexão
subjetiva entre os valores do receptor e o conteúdo falso.
Essencialmente são explorados os
preconceitos e os ressentimentos diversos tornando o receptor uma caixa de
ressonância que amplifica e generaliza o conteúdo falseado.
Nem sempre se trata de uma
‘notícia’, por vezes o que se vê é a construção de uma situação com fins bastante
específicos.
Um dos modelos, para vídeos
curtos, funciona mais ou menos assim:
1. Cria-se / expõe-se uma
situação que causa grande repugnância moral.
2. Depois de o receptor estar bem
impactado, procede-se a uma generalização que termina por relacionar o objeto
da repugnância a um grupo, partido político, movimento social ou a uma temática
específica.
3) Faz-se uma indagação ao
espectador que gera uma ansiedade (preciso fazer alguma coisa – pelo menos
compartilhar com outros): “É este o país que queremos?”; “É isto que queremos
ensinar às nossas crianças?”
4) O final, como desfecho disto
tudo, diz o que se deve fazer para atender à expectativa gerada no momento de
ansiedade: “Basta!”; “Temos que tomar nosso país de volta” etc. “Se você
concorda com estas ideias”, “Se você é contra esta roubalheira (depravação,
imoralidade) compartilhe este vídeo”.
5. Derradeiramente só uma música
de fundo e uma imagem; pode ser a bandeira do Brasil ou algo que dê a sensação
de ordem, assim por diante.
Um exemplo fictício de um vídeo
neste formato.
1. O vídeo começa lento e narra,
com imagens, que um “artista”, sem localizar tempo e espaço (contexto), certo
dia resolve fazer cocô num potinho transparente e chamar o resultado de “obra
de arte”.
É importante que esta primeira
informação tenha uma base real, ou seja que o caso tenha realmente acontecido,
ainda que seja narrado de maneira distorcida.
Utilizando imagens reais de algum
arquivo, ou criadas / montadas, ressalta-se a exposição do artista focalizando
sua “obra” e sua postura um pouco sádica, um pouco cínica, até o espectador
ficar horrorizado, enojado com a situação.
2. A partir daí o vídeo acelera e
passa a narrar algo como “Há algum tempo artistas depravados vêm tentando impor
à sociedade sua visão de mundo distorcida”. Uma profusão de imagens de Arte
Moderna passam rapidamente na tela, ressaltam-se cenas de desproporção, nudez e
sexo.
3. O desfecho dependerá do
objetivo do vídeo. Se for para desautorizar a fala de qualquer artista,
projetam-se as imagens de artistas contemporâneos e insinua-se que tudo isto se
faz com dinheiro público. Se o interesse estiver em associar a “arte
degenerada” a um grupo político, encadeia-se entre as imagens fotografias de
líderes pertencentes a este grupo em situações que insinuem o deboche em
relação à população.
O funcionamento depende, então,
de uma verdade original contida num potinho de cocô, de uma generalização
absurda, e de um público preconceituoso ou ressentido, que se sinta
inferiorizado por uma arte que não compreende.
O mesmo mecanismo é usado para os
mais diversos contextos.
A imagem disparadora pode ser de
um filme pornográfico onde algum símbolo religioso que seja usado, neste
contexto, por mulheres, por exemplo.
A generalização fará
desqualificar toda a luta das mulheres contra a desigualdade e a violência
física e simbólica, desconsiderando as grandes conquistas humanitárias operadas
pelo movimento feminista em diversos contextos. Um movimento que luta pelos
direitos das mulheres, mas que também ajuda os homens a crescerem como seres
humanos.
Além do processo de
generalização, há, claro, mentiras mais deslavadas ou diretas como a história
do kit gay.
Se houver futuro, teremos que
pensar em como fazer para que as pessoas não fiquem tão vulneráveis a este tipo
de engodo aparentemente simplório, mas que gera alienação, ódio e morte.