sexta-feira, 12 de outubro de 2018

NACIONALISMO



Eu era muito pequeno, mas ainda lembro. Os Comícios pelas Diretas-Já. A Ditadura havia confiscado todos os símbolos nacionais. Falar de amor pelo Brasil era visto como algo muito ingênuo dentro daquele contexto. Então, em todo o comício passou-se a entoar, no começo timidamente, depois a plenos pulmões o Hino Nacional puxado pela cantora Fafá de Belém. Era um grito de libertação como a dizer que apesar de termos consciência, não sermos ufanistas, este país - esta construção social - também é nosso. Nós também o amamos e nos amamos.

Agora a coisa está espalhada, mas isto tudo começou com pessoas utilizando camisetas da seleção brasileira em protestos na Avenida Paulista. Há uma diferença muito grande entre utilizar os símbolos e viver o amor pelo seu povo. A maioria que ali estava não pode ser chamada de nacionalista. Em alguns cartazes se podia ver a verdade: “Quero voltar para a Disney”. Seu país é Miami. É isto que amam, sua utopia. São miamistas.


São pessoas ligadas ao colonialismo interno e externo. Jamais admitiriam olhar horizontalmente nos olhos de um nordestino pobre, de um negro da favela, do jovem guarani que vive numa comunidade ali pertinho do grande centro urbano. Não. Eles se sentem superiores. Poderiam até praticar caridade, dar-lhes uma cesta básica, mas a igualdade se esvai no elevador separado e no quartinho humilhante da empregada.


Quando o seu candidato diz que “os homens de bem têm que se armar por que os moleques das comunidades estão todos armados” fica nítida a sua posição da Casa Grande. O golpe vem pra barrar a descolonização interna e externa do Brasil, processo que ainda engatinhava. Por isso ele é tão violento.


Conversemos com as pessoas, digamos que amamos o Brasil e o povo brasileiro. Amamos a ciranda, o fandango, a capoeira, a viola. Amamos todas as gentes que habitam este território imenso.

Estamos, tentando vencer a inércia imposta pelo medo construído pelos fascistas, e indo até as comunidades mais pobres aqui na nossa pequena cidade. Eles estão mais abertos ao diálogo do que os bairros da classe média e da classe pobre alta.


Sem ingenuidade, vamos tentar, afinal aprendemos que “um filho teu não foge à luta”.

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