A maior parte das pessoas que estão em minhas redes sociais são bastante esclarecidas. Mas alguns poucos ainda se confundem diante da multiplicidade de informações que as redes proporcionam.
A incoerência não é uma
característica exclusiva de qualquer crença. Em verdade, é muito difícil
agirmos de forma coerente com aquilo que acreditamos, professamos e propagamos.
O importante é continuar
tentando, a cada lapso cometido.
Outra coisa, muito diferente, é
professar duas crenças mutuamente excludentes.
O cristianismo, como qualquer outro
sistema de crenças humano, tem também suas incoerências. No entanto, quem lê os
relatos bíblicos pode perceber vários momentos importantes que induzem a
entendermos que os seguidores do Rabi de Nazaré deveriam professar o amor, o
perdão, a compaixão, a humildade...
Estas condutas e valores são
incompatíveis com outras crenças disseminadas pelas redes sociais que comemoram
a morte, desejam o extermínio dos seres humanos, instigam e instilam ódio.
Lembrei-me de uma musiquinha que
embalara a minha infância e que perguntava “o que é preciso para ser feliz?”
Os seguidores do ódio e da
hipocrisia não sabem conviver com as diferenças. Para demonstrar a
incompatibilidade entre as duas crenças, a canção a que me refiro, cantada
pelos neofascistas brasileiros (e mundiais) ficaria assim:
Matar como J matou.
Torturar como J torturou
Estuprar como J estuprou
Estimular o ódio como J estimulou
Ser hipócrita como J o era
Dissimular como J fazia
Mentir como J mentia
E ao chegar ao fim do dia
Será que eu dormiria
com a consciência tranquila?
Vocês, meus amigos e,
especialmente, parentes queridos, não são assim. Não pensam assim. Conseguiram,
durante muito tempo, e conseguem, ainda hoje, conviver com as diferenças. Na
sua rua, na escola onde estuda (ou estudou), na sua igreja e na sua própria
família há pessoas com costumes, maneiras de pensar e se comportar muito
diferentes dos seus. Vocês não desejam a morte de todos os que pensam
diferente. Têm afeto, carinho e a integridade possível de pessoas que trabalham
honestamente. Só estão momentaneamente hipnotizados por um bombardeio de
discursos odientos e mentiras construídos por grupos que planejam estratégias
psicológicas de divulgação de seus ideais em nível mundial. Eles manipulam sua
raiva, sua indignação com as injustiças do mundo. Eles utilizam da sua
dificuldade de entender o caos, a complexidade do mundo contemporâneo,
simplificando ideias e dividindo o mundo entre bons e maus.
Vocês compartilham estas ideias
sem saber de onde elas vêm, como elas foram montadas e por quem. E,
principalmente, não percebem que esta atitude vai acabar nos levando à guerra e
à destruição mútuas. Ninguém sairá ganhando.
Respirem um pouco, raciocinem um
pouco, antes de compartilhar mensagens odiosas e difamatórias sejam de quem e
sobre quem for. Verifiquem se a postagem está coerente com as suas crenças mais
íntimas. Analisem se está compatível com o mundo que você deseja criar ao seu
redor. Reflitam se é este o nível de compreensão que gostariam que as demais
pessoas tivessem com vocês.
Estamos num momento bastante
difícil para a humanidade e, numa época em que temos todos, através da
multiplicação da comunicação proporcionada pelas redes sociais, a oportunidade
de interferir no debate público, nossa responsabilidade aumenta.
Podemos utilizar as redes sociais
para brincar, nos divertir, dar boas risadas, confraternizar...
Mas há também elementos que
envolvem – e tem consequências para - a vida coletiva como um todo. Às vezes é
bom refletir um pouco.
Quais crenças e valores que estão
lá no seu íntimo? Que mundo você deseja ajudar a construir? Suas publicações e
compartilhamentos estão coerentes com os seus valores?
Não é possível - ao menos não é
desejável - professar duas crenças que se excluem mutuamente. Será importante
que um dia o nosso ‘sim’, seja realmente ‘sim’.