segunda-feira, 31 de dezembro de 2018


Você fez sacrifícios do teu próprio eu em prol de um ideal maior
Errou, como todos erram, mas se esforçou pelo bem dos outros
Então não importa se te agradecem, se te desprezam
Pois você fez sua parte.
Mantenha a mente tranquila,
Pense neles com carinho
Se estão felizes e no caminho do bem, isto é o que importa.

domingo, 30 de dezembro de 2018

AFREKETÊ




Mesmo com tantos desencontros
Que esta vida nos apresenta
Há que que se ressaltar
Que é possível compartilhar,
Quando a alma está atenta,

Desejos, vivências, fraternidades,
Um encontro de corações,
Com candura e fortaleza
Para superar a avareza
Das dominâncias destes rincões

Música, artes, culturas,
Integração, inclusão,
É tanta beleza reunida
Que nos faz acreditar que há saída
Para este mundo em implosão

Que tenhamos muitos Afreketês
Velando pela alegria de nosso mundo
Abrindo os caminhos, mostrando os atalhos
Berimbaus, pandeiros, chocalhos
Canções e vozes divinas
Que vêm deste Brasil mais profundo.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

2018




Coisas que estou tentando tirar de aprendizagem deste difícil 2018:

1. Nunca julgar o outro sem ouvi-lo. Nunca tomar partido, reproduzir, internalizar interpretações sem perguntar, honesta e claramente, à outra parte envolvida quanto à sua versão dos fatos. Nunca reproduzir difamações, especialmente se não possuir provas concretas.

2. As máscaras sempre caem, mais cedo ou mais tarde. Isto vale, claro, para a macropolítica, seus mecanismos de propaganda e de fabricação de reputações. Mas vale também para a nossa vida individual. Não vale a pena firmar esforços na construção do que queremos aparentar aos outros. Uma hora o espelho se desvela e cá estamos com nossos medos, defeitos, desejos inconfessáveis... Melhor se conhecer bem, saber dos seus próprios limites e potencialidades. Assim não se necessitará de máscara alguma e, ainda que não tenha chegado a ser tão bom quanto gostaria, a verdade, ao menos aquela parte dela que conseguimos acessar, nos ajuda a crescer e, por isso mesmo, é sempre melhor que a mentira.   

3. Conversar e ouvir sem julgar são atos urgentes de amor que todos precisamos desenvolver para ajudarmos e nos ajudarmos a suportar este torvelinho de sentimentos por que passamos nesta transição terrena.




sábado, 22 de dezembro de 2018

"Não se preocupe mais

Eu não perturbo mais

Já disse adeus à mãe,

Já disse adeus ao pai"
Acabar com a própria vida leva ao inferno.
O inferno está na cabeça das pessoas.
Neste caso, pelo menos entende-se o porquê.
Não houve nenhum momento em que minha mãe fez mais falta do que neste período.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

É isso que resultou da tua vida.

Seja feita tua vontade.
És só e triste.
Fizeste tudo errado na tua vida.
E agora já é tarde pra mudar.
Saboreie tua morte.
Será comemorada com escárnio contido.
No fundo é o que mereces: solidão e tristeza.
Seja feita a vontade se queres que o purgatório seja aqui.
Viver por viver.
Nenhuma esperança, nunca.
Nenhum carinho, nunca.
Nenhuma conversa, nunca.
Continuar vivo, esta é a tua condenação.
Consciente de que não és nada e não significas nada pra ninguém.

domingo, 16 de dezembro de 2018

"Eu tenho uma grande admiração por você"



"A porta cerrada do quarto
Ninguém está?
A velha amizade falida
O que será?
Porque nessas voltas e idas
Se pouco importa amor?
Se cada subida e decida, fecham-se as portas?

Foi por acidente ou acaso
Que vim ao mundo
Olhei com meus olhos de medo
Por um atraso
As regras tomaram se às formas
E eu ser humano
Fiz tanto por tantos
E agora
Ninguém por mim

Onde é que estão meus amigos?
Onde é que estão?
Amigos, parceiros de guerra
Aonde é que estão?

Respondem as portas cerradas
É tudo que sobra amor
Dos restos mortais de uma estrada
De pedra e pó"

Duduca e Dalvan

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Perdão



Ninguém é somente vítima.

Todos somos responsáveis pelo que fazemos e pelo que fazem de nós.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018


Você está liberta.
Você está liberta de mim.
Das minhas garras, do meu controle, dos meus fantasmas.
Não me deve nada.

Você está livre.
Pode ser você mesma.
Rir por horas.
Se divertir do jeito que gosta.

Vai ser o que você nasceu pra ser.
Um espírito livre.
Pra ser feliz.

sábado, 1 de dezembro de 2018

Continuamos


Continuamos a fingir que não dói
A fingir que aguentamos
A fingir que damos conta.

Será que as pessoas acreditam?
Ou também fingem?

segunda-feira, 26 de novembro de 2018







"Eu sei que esses detalhes vão sumir
Na longa estrada
Do tempo que transforma todo amor
Em quase nada".

sábado, 24 de novembro de 2018

Se puder, sem medo






Quando o amor e a raiva.
Convivem dentro de ti.

Quando você não consegue entender
E tudo se despedaçou

Tua fé,
teu norte,
tuas crenças

Pra onde ir
Pra onde não ir.

Quando não há mais horizonte.
E só o imediato
Continuar vivendo

Eu, a barata, o rato.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Fruindo



A vida flui
E fruímos a vida
Sem regras
Sem expectativas

Esta vida que tem sabor de fel e hortelã
Quem vai entender
um passado distante
tantos sacrifícios

E tudo é destruído num pequeno gesto
Num desprezo manifesto

A vida flui
E fruímos a vida

Que nos resta senão continuar
À espera de outra ilusão

Sim, faria sentido
Algo faria sentido
Ou não





sonhos


segunda-feira, 12 de novembro de 2018


Se não é eterno, não é amor.
Amor é infinito.
Se não há verdade, não é amor.
Amor é a quintessência da honestidade.

Resultado de imagem para infinito

terça-feira, 6 de novembro de 2018


Neste banquete de micróbios.
Larvas, ranhos, ódios.

Nesta corja canalha

Um bando de medrosos
Se exibindo com navalha

Neste banquete de pavor

Mentiras, pavonices,
horror

Deliciem-se, deliciem-se!

Venham todos ver o novo circo!

Há merda para todos.


Vende-se um país.

Com lambedores de botas como brinde.

Mataram mais um negro 'por acidente'.

Que pena!
Aumentou a estatística.

Espancaram outra travesti.

Pobrezinha, se estivesse vestida decentemente...

Venham ver!


Mais um professor acuado. Isto. Humilhem-no!!

Ele pensa que sabe alguma coisa.

Há horror para todos os gostos.


Vamos tomar o que sobrou da terra destes índios!

Teremos mais boi gordo. Os salmões da Noruega merecem mais um pouco de soja.

Vamos cavocar a terra. Precisamos doar estes minérios para eles transformarem em algo que preste.


Vamos perdoar as dívidas destes empresários honestos. Vamos acabar com qualquer direito de quem trabalha!


Vamos dar mais dinheiro ao judiciário para suas festas nababescas. 


Vamos diminuir o rendimento daqueles que trabalharam a vida inteira.


 Sim, entrem na fila. Os novos empreendedores distribuirão comida e brinquedo no natal.
   

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Já escureceu e eu não percebi.

Agora há pouco estava tudo claro.

Já escureceu e mais um dia eu perdi.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

TENTANDO ENTENDER, CASO HAJA FUTURO



A Fake News é uma MENTIRA QUE PARECE VERDADE.
Há vários modelos de Fake News e há grupos especializados na sua produção.
A Fake News atual não é somente uma notícia enganosa. Mas uma criação deliberada para estimular o ÓDIO.
Trata-se da atualização, para o mundo das redes sociais, de um modelo antigo de demonizar inimigos.
Para funcionar, ela precisa imitar uma notícia de jornal escrito, um vídeo produzido por um telejornal ou no modelo vídeo-aula.
Há muitos modelos e formas de criação de notícias falsas e elas atingem as pessoas através de uma conexão subjetiva entre os valores do receptor e o conteúdo falso.
Essencialmente são explorados os preconceitos e os ressentimentos diversos tornando o receptor uma caixa de ressonância que amplifica e generaliza o conteúdo falseado.
Nem sempre se trata de uma ‘notícia’, por vezes o que se vê é a construção de uma situação com fins bastante específicos.
Um dos modelos, para vídeos curtos, funciona mais ou menos assim:
1. Cria-se / expõe-se uma situação que causa grande repugnância moral.
2. Depois de o receptor estar bem impactado, procede-se a uma generalização que termina por relacionar o objeto da repugnância a um grupo, partido político, movimento social ou a uma temática específica.
3) Faz-se uma indagação ao espectador que gera uma ansiedade (preciso fazer alguma coisa – pelo menos compartilhar com outros): “É este o país que queremos?”; “É isto que queremos ensinar às nossas crianças?”
4) O final, como desfecho disto tudo, diz o que se deve fazer para atender à expectativa gerada no momento de ansiedade: “Basta!”; “Temos que tomar nosso país de volta” etc. “Se você concorda com estas ideias”, “Se você é contra esta roubalheira (depravação, imoralidade) compartilhe este vídeo”.
5. Derradeiramente só uma música de fundo e uma imagem; pode ser a bandeira do Brasil ou algo que dê a sensação de ordem, assim por diante.
Um exemplo fictício de um vídeo neste formato.
1. O vídeo começa lento e narra, com imagens, que um “artista”, sem localizar tempo e espaço (contexto), certo dia resolve fazer cocô num potinho transparente e chamar o resultado de “obra de arte”.
É importante que esta primeira informação tenha uma base real, ou seja que o caso tenha realmente acontecido, ainda que seja narrado de maneira distorcida.
Utilizando imagens reais de algum arquivo, ou criadas / montadas, ressalta-se a exposição do artista focalizando sua “obra” e sua postura um pouco sádica, um pouco cínica, até o espectador ficar horrorizado, enojado com a situação.
2. A partir daí o vídeo acelera e passa a narrar algo como “Há algum tempo artistas depravados vêm tentando impor à sociedade sua visão de mundo distorcida”. Uma profusão de imagens de Arte Moderna passam rapidamente na tela, ressaltam-se cenas de desproporção, nudez e sexo.
3. O desfecho dependerá do objetivo do vídeo. Se for para desautorizar a fala de qualquer artista, projetam-se as imagens de artistas contemporâneos e insinua-se que tudo isto se faz com dinheiro público. Se o interesse estiver em associar a “arte degenerada” a um grupo político, encadeia-se entre as imagens fotografias de líderes pertencentes a este grupo em situações que insinuem o deboche em relação à população.
O funcionamento depende, então, de uma verdade original contida num potinho de cocô, de uma generalização absurda, e de um público preconceituoso ou ressentido, que se sinta inferiorizado por uma arte que não compreende.
O mesmo mecanismo é usado para os mais diversos contextos.
A imagem disparadora pode ser de um filme pornográfico onde algum símbolo religioso que seja usado, neste contexto, por mulheres, por exemplo.
A generalização fará desqualificar toda a luta das mulheres contra a desigualdade e a violência física e simbólica, desconsiderando as grandes conquistas humanitárias operadas pelo movimento feminista em diversos contextos. Um movimento que luta pelos direitos das mulheres, mas que também ajuda os homens a crescerem como seres humanos.
Além do processo de generalização, há, claro, mentiras mais deslavadas ou diretas como a história do kit gay.
Se houver futuro, teremos que pensar em como fazer para que as pessoas não fiquem tão vulneráveis a este tipo de engodo aparentemente simplório, mas que gera alienação, ódio e morte.


segunda-feira, 22 de outubro de 2018

INDÍCIOS


Se morrermos logo ali adiante
De susto, de bala ou vício
Não será por ter debandado
À beira do precipício

Se morrermos logo ali adiante
Por decreto, ou visita sem ofício
Não será por ter considerado
Fora de moda algum sacrifício

Se morrermos logo ali adiante
De susto, de bala ou vício
Não será por termos abandonado
A luta logo no início.

Se morrermos logo ali adiante
Não terá sido desperdício
Termos plantado uma semente
Na luta contra o flagício

Se morrermos logo ali adiante
Haverá outros natalícios
Esperanças brotarão
Tendo nosso testemunho como indício.


O debate é a coragem de expor suas ideias à crítica.


Falta de debate é falta de humildade.

sábado, 20 de outubro de 2018

DEBATE


O debate é parte essencial da democracia e da configuração do espaço público.

Todos que publicam e divulgam notícias que instigam o ódio deveriam sair do escudo monológico das redes sociais e se dispor a um debate público baseado na Razão, no respeito individual e coletivo.

Um debate, em níveis civilizados, serve para esclarecer as pessoas, para ponderar, ajudando a alicerçar e modificar as próprias ideias.

Sem o debate, a democracia não existe.

Sem o debate prepondera somente a lógica do pregador religioso que estuda técnicas de retórica para falar sozinho e pedir amém.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

MEMÓRIA



Copiem e guardem algumas postagens de seus amigos virtuais
Daqui a 20 anos quando estiverem cansados da destruição e o efeito da hipnose passar
Se estivermos vivos
Precisaremos delas para montar o MUSEU NACIONAL DA DEMOCRACIA
E apresentar às novas gerações algo que já sabíamos, mas esquecemos
Não existe, ainda, uma democracia perfeita, mas só com liberdade de expressão se tem a possibilidade de conter os abusos, as corrupções e as opressões.

Copiem e guardem algumas postagens de seus familiares
Daqui a 20 anos quando estiverem cansados da destruição e o efeito da hipnose passar
Se estivermos vivos
Precisaremos delas para construir o MUSEU NACIONAL DA VERDADE
E apresentar às novas gerações algo que já sabíamos, mas esquecemos
É melhor rejeitar dez verdades do que aceitar uma mentira.

Copiem e guardem algumas postagens de seus colegas de trabalho
Daqui a 20 anos quando estiverem cansados da destruição e o efeito da hipnose passar
Se estivermos vivos
Precisaremos delas para montar o MUSEU NACIONAL DA PAZ
E apresentar às novas gerações algo que já sabíamos, mas esquecemos
A demonização de qualquer grupo humano, acaba por retirar a humanidade que deveria haver dentro de cada um e de todos nós.


Copiem e guardem algumas postagens,
Jamais para usá-las como vingança,
(Daqui a 20 anos já estaremos todos cansados, triturados por esta guerra)
Precisaremos delas para erigir uma MEMÓRIA
E apresentar às novas gerações algo que já sabíamos, mas esquecemos
“Somente a humanidade redimida poderá apropriar-se totalmente do seu passado. Isso quer dizer: somente para a humanidade redimida o passado é citável, em cada um dos seus momentos”.

SOBRE UNIÃO

Ataques entre pessoas que deveriam estar do mesmo lado, agora, são muito ruins.


Uma das grandes conquistas do golpe foi a demonização do PT. É claro que esta demonização começou muito antes, desde a fundação do partido.


Para não escrever demais, não vou abordar aqui o quanto foi difícil construir os lastros sociais que fizeram este partido uma alternativa real no Brasil.


Também não precisa fazer um grande raciocínio para saber o quanto vai demorar para construir outra alternativa com esta possibilidade concreta e, não havendo outras mudanças significativas, compreender o quanto esta outra alternativa, partidária ou não, também seria demonizada.


Percebi o assento da demonização quando, em 2016, jovens, bem intencionados, começavam a publicar coisas como “Ser contra o golpe não é ser petista”... O uso do termo “petista” como doença passou a senso comum, como a querer se desvencilhar de algo que é malévolo, “não sou petista mas....”.


Penso que, neste momento, o uso desta fórmula mais reforça o preconceito do que ajuda a converter o pensamento dos antipetistas à direita, nos quais o processo de demonização está arraigado.


Na atual conjuntura qualquer candidato avulso (sim, é assim que as pessoas tratam, candidatos como “bloco do eu sozinho”) precisaria do apoio do PT para se eleger e sofreria do mesmo processo de demonização, coisa que já estava acontecendo antes do primeiro turno.


Haddad é um dos quadros mais inteligentes e íntegros do Partido dos Trabalhadores, mas como ele há muitos dentro deste partido. A diferença deles para todos nós é que têm a força de estar dentro deste jogo da política partidária, coisa que eu, por exemplo, não conseguiria. Convenhamos que permanecer nos quadros do Partido dos Trabalhadores nos últimos anos não foi tarefa fácil.


**


Contudo, precisamos falar de outra coisa agora também: as críticas que estão fazendo ao candidato Ciro Gomes. Se ele se afastar definitivamente da campanha do 2º turno realmente terá sido um erro de avaliação (mas não penso que se deva atacá-lo se for esta a sua decisão). Diante da gravidade, as disputas partidárias devem ser suspensas temporariamente.


Mas sendo Ciro Gomes um homem extremamente inteligente e com excelentes ideias nacionalistas e progressistas e sabendo da sua importância política neste momento, este afastamento temporário pode ser muito salutar. Livra o candidato, terceiro colocado, do processo de demonização que iria ocorrer com qualquer um que estivesse se posicionando publicamente agora e pode se converter em um grande capital simbólico para ele mesmo e para a campanha de Haddad.


Ciro, voltando a 4 dias do final da campanha, ganharia um status muito importante como uma espécie de “salvador da pátria” (uso o termo apenas no sentido estratégico) e sendo apresentado como futuro ministro poderia representar uma arrancada final a convencer indecisos entre os próprios eleitores do grande político cearense.


Haddad é do Partido dos Trabalhadores, mas representa um PT mais maduro.


Parece-me que é consenso que estamos num momento muito grave. É hora de união, de dar as mãos para enfrentar algo muito pior.


Para quem não entende do que estou falando, assistam um trecho de ‘A Vida de Brian’ do Monty Python e percebam o quanto os soldados romanos riem de nós nesta situação.

sábado, 13 de outubro de 2018




Toda vida importa
Da puta, do ladrão, do índio no sertão
Toda forma de vida importa
Do cachorro, da criança,
Do boi humilhado no rodeio
Toda forma de vida é importante
Da planta rastejante, da estrela do mar,
Do militante,
Toda vida tem importância
Do adolescente infrator,
Da criança, da primeira infância.
Toda a vida é importante,
Do travesti, do mendigo sem rumo,
Do artista que coloca novos mundos no mundo
Toda vida tem muito valor
A do viciado, do internado no manicômio,
Não valem menos do que a do doutor.
Toda vida importa
Mesmo a desta gente de mente torta
Que acha que a solução é eliminar,
Exterminar a quem não se gosta.
Toda vida importa!

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

NACIONALISMO



Eu era muito pequeno, mas ainda lembro. Os Comícios pelas Diretas-Já. A Ditadura havia confiscado todos os símbolos nacionais. Falar de amor pelo Brasil era visto como algo muito ingênuo dentro daquele contexto. Então, em todo o comício passou-se a entoar, no começo timidamente, depois a plenos pulmões o Hino Nacional puxado pela cantora Fafá de Belém. Era um grito de libertação como a dizer que apesar de termos consciência, não sermos ufanistas, este país - esta construção social - também é nosso. Nós também o amamos e nos amamos.

Agora a coisa está espalhada, mas isto tudo começou com pessoas utilizando camisetas da seleção brasileira em protestos na Avenida Paulista. Há uma diferença muito grande entre utilizar os símbolos e viver o amor pelo seu povo. A maioria que ali estava não pode ser chamada de nacionalista. Em alguns cartazes se podia ver a verdade: “Quero voltar para a Disney”. Seu país é Miami. É isto que amam, sua utopia. São miamistas.


São pessoas ligadas ao colonialismo interno e externo. Jamais admitiriam olhar horizontalmente nos olhos de um nordestino pobre, de um negro da favela, do jovem guarani que vive numa comunidade ali pertinho do grande centro urbano. Não. Eles se sentem superiores. Poderiam até praticar caridade, dar-lhes uma cesta básica, mas a igualdade se esvai no elevador separado e no quartinho humilhante da empregada.


Quando o seu candidato diz que “os homens de bem têm que se armar por que os moleques das comunidades estão todos armados” fica nítida a sua posição da Casa Grande. O golpe vem pra barrar a descolonização interna e externa do Brasil, processo que ainda engatinhava. Por isso ele é tão violento.


Conversemos com as pessoas, digamos que amamos o Brasil e o povo brasileiro. Amamos a ciranda, o fandango, a capoeira, a viola. Amamos todas as gentes que habitam este território imenso.

Estamos, tentando vencer a inércia imposta pelo medo construído pelos fascistas, e indo até as comunidades mais pobres aqui na nossa pequena cidade. Eles estão mais abertos ao diálogo do que os bairros da classe média e da classe pobre alta.


Sem ingenuidade, vamos tentar, afinal aprendemos que “um filho teu não foge à luta”.

terça-feira, 9 de outubro de 2018



Caro colega (espero que ainda possa chama-lo assim) eleitor comum do PSL (estou falando com o vizinho, o colega de trabalho, o familiar, o atendente da padaria...),
Você diz se espantar com o aumento da intolerância neste momento: pessoas estão rompendo amizades (não só virtuais).
O que precisamos entender juntos é que o que está em jogo não é apenas uma questão de voto como escolha pessoal.
O que está em questão e gera todo este conflito agora é a mentira e a incitação à violência que, em suas postagens, estão juntas como duas faces da mesma moeda e talvez você não perceba.
Quando você compartilha notícias falsas, premeditadamente construídas, sobre Cotas Raciais, Lei de incentivo à cultura, feminismo, educação sexual etc. e torna isso público e central para o entendimento social contemporâneo, sem ter lido nada mais sério, sem ter participado de um debate em que fossem contemplados os vários lados, você está dizendo simplesmente que a verdade não lhe importa, o que importa é exterminar aquilo que você entende, ‘preconcebidamente’, como errado.
Daí será importante você compreender também a consequência dos seus atos. Para muitas pessoas estas coisas que você critica têm relação com a própria vida pessoal (e, às vezes, das pessoas mais próximas e queridas), com a sua sobrevivência material, cultura e psíquica.
É claro que, para tais pessoas (e amigos delas), suas publicações vão causar uma grande dor, uma sensação de horror e de ataque pessoal. Por que é assim que as suas postagens são construídas. Com a impossibilidade do debate, da divergência e do diálogo. Incitando ao ódio, à destruição da possibilidade de existência daquilo que é criticado.
Eu sei que quando você posta estas coisas, provavelmente (se for uma pessoa com alguma sanidade mental e moral) não enxerga aquele seu colega de trabalho, seu familiar, sobrinho, filho, irmão, amigo como alvo desta postagem. Aquele seu amigo ou parente, apesar de ideias diferentes, lhe parece uma pessoa normal e não o demônio descrito nas postagens. No entanto, é ele mesmo o alvo. É isto que eu gostaria que você entendesse. A violência verbal, física e psíquica está chegando nestas pessoas que você sabe que têm qualidades e defeitos como você e qualquer outro ser humano.
Eu até hoje nunca vi (pode até ser que exista) uma postagem com uma chamada “Vamos exterminar os bolsonaristas”, “Vamos massacrar...”. “Vamos fuzilar”. Pode haver gente com valores distorcidos também no nosso lado, mas tenho certeza que a grande maioria repudiaria este tipo de manifestação, ao menos dentro da pequena sobra de democracia que nos resta.
No entanto, é predominante o uso destes termos - massacrar, fuzilar, exterminar - em muitas postagens do seu grupo, especialmente, mas não exclusivamente, em relação aos integrantes do Partido dos Trabalhadores (sem falar de gays, lésbicas, beneficiários do bolsa família, feministas, nordestinos, etc.). Recentemente o seu candidato, “de brincadeira”, usou estes termos no Acre. Perceba o tom de ódio e o perigo nestas e em outras palavras utilizadas.
O resultado das eleições mostrou que existem mais de trinta milhões de pessoas que, de alguma forma, ainda acreditam no projeto do PT.
Digamos que, deste total, dez por cento sejam de pessoas convictas que trabalham no (e pelo) partido há muito tempo, de maneira idealista. Seriam três milhões de pessoas!! Pessoas que dedicaram a sua vida à construção de um projeto.
Você pode e tem todo o direito de discordar frontalmente do ideal delas (não vamos entrar aqui nos dados que você usa para formar seu juízo de valor), mas quando generaliza que todos são bandidos, vagabundos e devem ser mortos, você está colocando a vida de todas elas em risco. Aquele seu colega que trabalha na saúde pública, aquele professor, o jovem da repartição ao lado, todos estarão ameaçados.
Agora, claro que a dor e a ameaça se triplicam quando são geradas por pessoas dentro da própria família. Família não é lugar pra pensar todo mundo igual, mas uma de suas funções básicas é proteger os indivíduos, dando guarida contra as diversas ameaças do mundo externo.
Quando pessoas, dentro da própria família, publicam insistentemente coisas que, direta ou indiretamente, chamam seus parentes mais próximos de vagabundos, burros, ladrões, preguiçosos, corruptos, bandidos... e pregam o seu extermínio, um drama psicológico de maior proporção se instaura. Tenho visto esta situação se repetir com inúmeros alunos e jovens professores. Estão aterrorizados.
Creio, sinceramente, que uma parte dos eleitores de Bolsonaro deseja realmente exterminar pessoas que pensam diferente, mas outra parte, não. Apenas está manifestando o seu descontentamento com a situação do país. E é somente a esta última parcela que eu gostaria de apelar.
Não estou pedindo para você mudar seu voto, embora gostaria. Estou pedindo para você parar de disseminar a mentira (mesmo que aparentemente coincida com seus valores), a incitação da violência e o ódio.
Pessoas estão sendo atacadas, agredidas, mortas. Muitas estão com medo e fragilizadas emocionalmente. Talvez aquele seu familiar - e pelo que tenho conversado com tanta gente não estou exagerando - esteja dando seu último grito de socorro – antes de um desequilíbrio psíquico mais grave gerado por esta situação. Isto é sério. Há pessoas sádicas que gostam de impor medo e pavor aos outros, mas tenho fé de que você não seja uma destas.
Pense também no futuro mais imediato do país após as eleições. Como será conviver com este clima de guerra?
A cultura do ódio já está muito disseminada. Algumas coisas já se quebraram e as cicatrizes vão demorar muito a desaparecer.
Além de outras coisas ainda piores que podem vir, reconstruir laços afetivos e recuperar equilíbrios psíquicos não vai ser fácil.
Sou professor de História e, pelo pouquíssimo que estudei, posso afirmar que o ódio disseminado pode voltar-se contra você mesmo.
É fundamental que você saiba que é muito mais do que uma questão partidária ou eleitoral. Estamos falando da importância da VIDA de cada um.
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Eu sei que este texto não vai chegar às pessoas que gostaria que lessem (estou na bolha social) e se chegar pode ser lido dentro do clima beligerante, não como uma proposta de diálogo, mas como uma afronta, uma propaganda ideológica (desde já deixo claro que não há nenhuma intenção neste sentido, nem mesmo a esperança de mudar o voto de alguém eu tenho a esta altura). Mas talvez possa dar argumentos a nós mesmos para retomarmos as conversas, o que é uma das nossas possibilidades de sobrevivência...

domingo, 7 de outubro de 2018


O MBL é um dos braços de uma rede norte-americana, chamada Atlas Network, criada para disseminar valores de acordo com corporações petrolíferas e financeiras mundiais.

O MBL é o maior fabricante de Fake News (notícias falsas) dentro do território brasileiro.

A “notícia falsa” não é somente uma mentira. Ela é uma montagem estratégica e psicologicamente pensada para causar empatia com os VALORES do leitor.

Estas estratégias, advindas da publicidade, foram adaptadas para a nova realidade das redes sociais e têm como característica mobilizar as emoções e sentimentos mais básicos, instintivos, para gerar a vontade, o desejo de compartilhar a informação rapidamente em sua comunidade.

Quando você compartilha algo provindo do MBL, a chance de você estar compartilhando uma MENTIRA fabricada com pequenos recortes da realidade (meias-verdades) é muito grande.

Pense e verifique antes de compartilhar qualquer coisa.

Afinal, se você teve o privilégio de ter alguma educação familiar ou escolar na sua vida, aprendeu que MENTIR, em qualquer circunstância, é errado.

A busca pela VERDADE é uma das bases para construirmos uma sociedade saudável.

EU E MEU FILHO AMADO, CAETANO, NO SHOW DE CAETANO E SEUS FILHOS.



Há muito tempo não assistia a um show deste porte. Sou muito grato à vida por me proporcionar este momento. Ainda mais junto com meu filho!!
O Espaço das Américas, que eu não conhecia, é uma casa de shows excelente. Mesmo não estando nas primeiras mesas, é possível uma ótima visibilidade da performance dos artistas.
Caetano, o Veloso, estava gripado. O seu esforço para manter a qualidade das interpretações deixou o show ainda mais emocionante.
Todo o show Ofertório é construído em torno de uma história familiar e a condução de um legado de Santo Amaro para o mundo. De Alegria, Alegria, que abre o show, passando por Alexandrino até Um Tom, que encerra o bis.
A ligação de tudo se dá logo após a maravilhosa Genipapo Absoluto, quando Caetano fala que não tem religião, que seus dois filhos mais novos são cristãos convictos e que Moreno é macumbeiro (para delírio da plateia) com tendências hinduístas e budistas. Então, comenta a canção Ofertório que escreveu na Voz de D. Canô, para ser cantada na missa dos seus 90 anos. Ele dedica a canção à religiosidade dos filhos.

Vale a pena reproduzir a letra e vislumbrar a sensibilidade do compositor em se colocar no lugar da vivência da matriarca.
“Tudo que por ti vi florescer de mim Senhor da vida Toda essa alegria que espalhei e que senti trago hoje aqui Todos estes frutos que aqui juntos vês Senhor da vida Eu em cada um deles e em mim todos os teus fiéis, ponho a teus pés Consentiste que minha pessoa fosse da esperança o teu sinal uma prova de que a vida é boa e de que a beleza vence o mal Tudo o que se foi de mim mas não perdi Senhor da vida os que já chorei os que ainda estão por vir oferto a ti Consentiste que minha pessoa fosse da esperança o teu sinal uma prova de que a vida é boa e de que a beleza vence o mal Tudo o que se foi de mim mas não perdi Senhor da vida os que já chorei os que ainda estão por vir oferto a ti”.
Moreno comanda o show com o pai e é o responsável pelos momentos mais divertidos.
Todos os filhos cantam canções próprias e tocam vários instrumentos.
No telão, para os mais atentos, dá pra ver a incrível semelhanças das mãos e da maneira de conduzir os instrumentos.
A plateia paulistana emocionou-se mais com “Força Estranha” com belo arranjo de vozes, uma celebração do Tempo.
Eu, que trabalho com o Tempo e confundo as histórias da música brasileira com a minha pequena história, vivi o êxtase com Oração ao Tempo, Reconvexo e Canto do Povo de Um Lugar.
Venho rezando a novena de D. Canô há muitos anos e é bom ter histórias pra contar.
Eu quero seguir vivendo, amor,
Por que não?
how beautiful could a being be






BURRO, LADRÃO E BANDIDO.

Tenho parentes que publicam postagens em que literalmente chamam a mim - e a todos que defendem ideias semelhantes às minhas - de BURRO, LADRÃO E BANDIDO.

Nunca defendo um ponto de vista como uma fé cega; utilizo sempre dados, informações e argumentos racionais (claro que sei que os dados e as informações podem ser interpretados, mas não relativizados, ignorados ou desprezados como alguns, aí sim cegamente, creem).

Avalio, portanto, o quanto de burrice, ladroagem e bandidagem há em mim, procuro combater as deficiências que consigo, melhorar meus argumentos, estudar e aprofundar as experiências e, no caso dos parentes, continuo amando.

Houve um caso, no entanto, em que o indivíduo defendia a morte e o extermínio de todos que pensavam como eu. Avisei-lhe que se tratava de uma rede pública e que este ódio espalhado poderia influenciar muitas pessoas e até mesmo se voltar contra ele. Não parou de publicar. Tive que excluí-lo de minha rede. Foi a resposta simplória que encontrei. Há valores que não se pode ultrapassar. O amor também exige alguns enfrentamentos.

As Joanas





É triste num domingo à noite termos que falar sobre isto. Mas há horas que não dá pra segurar. O jornalismo da rede Globo é a instituição mais desonesta de todo o território brasileiro e, entre os países maiores, um dos órgãos de comunicação mais nefastos a disseminar a mentira e o ódio. Trata-se da destruição de qualquer possibilidade de diálogo, da implosão da democracia e de qualquer projeto de soberania popular.



LA CONSTITUCIÓN DE URSAL

§ 1º El aire estará limpio de todo veneno que no provenga de los miedos humanos y de las humanas pasiones.

2º En las calles los automóviles serán aplastados por los perros.

3º La gente no será manejada por el automóvil, ni será programada por el ordenador, ni será comprada por el supermercado, ni será tampoco mirada por el televisor.

4º El televisor dejará de ser el miembro más importante de la familia y será tratado como la plancha o el lavarropas.

5º Se incorporará a los códigos penales el delito de estupidez que cometen quienes viven por tener o por ganar, en vez de vivir por vivir no más, como canta el pájaro sin saber que canta y como juega el niño sin saber que juega.

6º En ningún país irán presos los muchachos que se nieguen a cumplir el servicio militar sino los que quieran cumplirlo.

7º Nadie vivirá para trabajar pero todos trabajaremos para vivir.

8º Los economistas no llamarán nivel de vida al nivel de consumo, ni llamarán calidad de vida a la cantidad de cosas.

9º Los políticos no creerán que a los pobres les encanta comer promesas.

10º La solemnidad se dejará de creer que es una virtud, y nadie nadie tomará en serio a nadie que no sea capaz de tomarse el pelo.

11º La muerte y el dinero perderán sus mágicos poderes y ni por defunción ni por fortuna se convertirá el canalla en virtuoso caballero.

12º La comida no será una mercancía ni la comunicación un negocio, porque la comida y la comunicación son derechos humanos.

13º Nadie morirá de hambre porque nadie morirá de indigestión.

14º Los niños de la calle no serán tratados como si fueran basura porque no habrá niños de la calle.

15º Los niños ricos no serán tratados como si fueran dinero porque no habrá niños ricos.

16º La educación no será el privilegio de quienes puedan pagarla y la policía no será la maldición de quienes no puedan comprarla.

17º La justicia y la libertad, hermanas siamesas, condenadas a vivir separadas, volverán a juntarse, bien pegaditas, espalda contra espalda.

18º En Argentina las locas de Plaza de Mayo serán un ejemplo de salud mental porque ellas se negaron a olvidar en los tiempos de la amnesia obligatoria.

19º La Iglesia dictará otro mandamiento que se le había olvidado a Dios, “amarás a la Naturaleza de la que formas parte”.

20º Serán reforestados los desiertos del mundo y los desiertos del alma.

21º Los desesperados serán esperados y los perdidos serán encontrados porque ellos se desesperaron de tanto esperar y ellos se perdieron por tanto buscar.

22º Seremos compatriotas y contemporáneos de todos los que tengan voluntad de belleza y voluntad de justicia, hayan nacido cuando hayan nacido y hayan vivido donde hayan vivido, sin que importe ni un poquito las fronteras del mapa ni del tiempo.

Adaptado de EDUARDO GALEANO – “EL DERECHO AL DELIRIO”



Em verdade vos digo, se saíres desde as 8 da manhã, fotografando loucamente, por lugares muito bonitos, mesmo estando com dois celulares, no meio da tarde vossas baterias acabarão e tereis que gravar o restante do passeio somente em vossas memórias.




SAINDO DO TURISMO e entrando mais no dia a dia de trabalho. Visitamos a Universidad Nacional de General Sarmiento que fica situada nos arredores de Buenos Aires. Para chegar até lá pega-se um trem na Estação Frederico Lacroze, no bairro de Chacarita. Junto à estação, terminais de ônibus e acesso ao metrô. Os arredores se parecem com o centro velho de qualquer grande cidade do Brasil. Há lojas de telefonia, comércio ambulante, bares, etc.

O trem leva cerca de 45 minutos para chegar à estação final (Gal. Lemos), passando por outras 24 estações. Depois pega-se uma conexão de ônibus que demora mais dez minutos para parar no portão da universidade (disseram-me que há uma conexão gratuita, mas ainda não consegui acessar).

Dentro do trem há vagões especiais para bicicletas. Pedintes vão de vagão em vagão, junto com vendedores de meias, balas de gomas etc. Também há um cantor de tango que troca de vagão a cada estação. Simpático, mas com vozeirão ensurdecedor (imagino que seja um pouco desconfortável para os trabalhadores que aproveitam para dormir um pouquinho mais pela manhã).

O trem tem marcas do tempo em relação à conservação, mas os assentos são confortáveis. Nos horários de pico, fica lotado com muitas pessoas em pé. O peso argentino está muito desvalorizado e uma passagem até a estação final custa mais ou menos setenta centavos de real. Tudo se faz com o cartão SUBE: ônibus, metrô, trem...

O trem vai passando pelos subúrbios, bairros pobres como os brasileiros. No trajeto não avistei nenhuma favela (que por aqui chamam “villa” - villa miseria, villa de emergência), mas elas também existem em abundância por aqui (conheci – avistei – apenas uma, muito grande, a de número 31, no caminho do estádio do River).

A UNGS é bastante bonita e movimentada. Aos poucos vou postando fotos e informações.



A comida em Buenos Aires é muito boa, é claro. Mas há algumas ausências severamente inexplicáveis.

1. Não há farinha de mandioca em lugar nenhum. Eu realmente não sei como toda uma população pode sobreviver desta forma. Mas imagino que isto explique um pouco do sofrimento por que passou este povo tão culto.

2. Nos cafés da manhã não há como comer nem um pão com banana, nem, ao menos, um pãozinho com ovo frito. Eles só se alimentam, pela manhã, com estas terribles media-lunas (croissants), empanadas e, em alguns lugares, até servem uns donuts. É realmente bem triste. Agora já consegui comprar umas bananas para, a partir de amanhã, comer comida de gente normal.

3. Em compensação em nenhum cardápio da cidade você vai encontrar a palavra catupiry. Trata-se de um salto quântico civilizacional a demonstrar que apesar de todas as adversidades este povo guerreiro vai encontrar seu caminho de merecida paz e justiça social.

PARQUE DE LA MEMORIA



Impossível não se emocionar no Parque da Memória de Buenos Aires. Trata-se, primeiramente, de uma homenagem aos 30 mil mortos pela última ditadura militar argentina. O lugar é belíssimo e exala alguma paz.

Aos domingos, famílias e jovens aproveitam o parque como um local de descanso e meditação. Hoje, algumas famílias de “desaparecidos” decoravam o chão e algumas árvores. Por respeito e certa emoção, não tive coragem de perguntar-lhes mais informações.

Muitas pessoas (turistas) usam óculos escuros, mesmo com o dia nublado, e pode-se ver as lágrimas de homens, mulheres, adultos e jovens, especialmente ao se aproximar dos mirantes do Rio da Prata, de onde se avista o mar no qual os militantes vivos eram jogados de avião. A escultura, no meio do Rio, em homenagem ao menino Pablo Míguez, que teve este destino aos 14 anos, é algo realmente de arrepiar.

Há um muro gigantesco onde estão os nomes dos desaparecidos que já tiveram seus corpos encontrados.

Além das obras de arte, há uma série de elementos que contam a História da Ditadura que, como no Brasil, está vinculada a grandes grupos empresariais, ao governo e às corporações norte-americanos, ao aumento abissal da dívida externa, da corrupção e da violência do Estado.

Um exemplo do povo argentino do quanto é importante termos memória para mantermos a esperança de construirmos juntos um mundo de paz e de justiça.

Para quem quiser entender melhor tem o ótimo vídeo do canal História Recente do Prof. Luis Fernando Cerri: https://www.youtube.com/watch?v=ttXGkyLmSI0





MAS EU TE DISSE, EU TE DISSE.... IV



Publicado originalmente em 19 de março de 2016 14:19

SOBRE A NEUTRALIDADE

(respondendo a alguns questionamentos)

Vejo muita gente dizendo-se “neutro”. “Os dois lados estão errados”. E outras lenga-lengas. Na vida prática, na ação de sujeitos humanos concretos, é muito difícil encontrar o “bem” em estado puro. E é muito fácil, também, ficar de braços cruzados esperando que este “bem” caia do céu.

Na maioria das situações, não há apenas duas posições a se analisar, a complexidade impõe diversos pontos de vista que levam à ponderação.

Há momentos, inclusive, em que se pode se abster de tomar um posicionamento. Esta abstenção pode revelar uma dúvida, ou mesmo um terceiro posicionamento que não esteja explicitado.
No entanto, há outros momentos da vida pessoal ou coletiva em que se tem que fazer uma opção. Há algumas situações em que não há como ter dúvida.

No atual momento, por exemplo, um dos lados defende o uso da força e da violência para resolver os problemas, defende uma ditadura militar que, depois de 20 anos de poder autoritário nas mãos (não se trata de um governo democrático que tem que negociar para implementar suas agendas, ao contrário eles tiveram caminho livre para fazer o que queriam) entregou um país, na década de 1980, com hiperinflação, corrupção, crime organizado, Estado aparelhado, violência, tráfico de drogas, uma dívida externa considerada impagável, uma mídia monopolizada, centenas de pessoas torturadas e mortas, e um abismo social gigantesco entre uma minoria detentora de bens e capital e uma imensa maioria pobre, sendo uma boa parte desta em situação de indigência.

Além disto, este lado comete crimes claros, utilizando todo o subterfúgio possível, sem receber qualquer tipo de punição. Utiliza-se do poder judiciário de maneira, evidentemente, parcial. Utiliza-se da imprensa, cuja função, exercida sob concessão pública, seria a de informar, para difamar e achincalhar, cotidianamente, personagens e projetos políticos que expressam o pensamento de grande parte dos brasileiros.

Neste lado, que alguns dizem que é simétrico ao outro, há pessoas que defendem a homofobia, o racismo, o machismo, a mídia monopolista, a privatização, o desmonte do Estado.
Há pessoas que xingam, de maneira vil e repugnante, uma senhora que é presidente da República, seja em passeatas ou em eventos internacionais.

São estas pessoas os baluartes da moralidade?

Neste lado, há pessoas, inclusive, que estão utilizando de violência contra qualquer um que represente algum tom de discordância. Estão atacando e destruindo sedes de partidos e sindicatos.

Claro, isto tudo incentivado, abertamente, por uma mídia covarde, com discurso partidário, unilateral e deformado.

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Sim, há erros em ambos os lados.

O lado que eu defendo tem uma responsabilidade grande na atual crise, especialmente por ter apostado apenas no aumento do consumo e não ter insistido na implementação de reformas estruturais que possibilitassem bases ético-morais mais sólidas para a construção do país, a redução das desigualdades e o aperfeiçoamento da democracia.

Sim, para o bem do país, deveríamos conversar, os dois blocos (estes blocos, depois, se fragmentarão), reconhecer alguns erros e tentar achar uma maneira de conduzir o país ao equilíbrio e à sensatez.

Mas a simetria que você alega não existe, especialmente quando se refere a valores.
Ao tomar uma posição em defesa da democracia neste momento, contra um golpe autoritário explicitamente arquitetado, você não está endossando todos os erros cometidos por este ou aquele partido, apenas, num momento crucial, está, de fato, mostrando quais sãos os seus valores mais profundos.

O sistema democrático atual é ainda muito imperfeito. Temos que lutar por melhorá-lo.

Mas o que está em jogo agora é a soberania popular e a defesa de alguma ordem democrática que garanta o seu, o nosso direito, de votar, escolher o que queremos, de termos direito de defesa quando acusados. De termos direito à nossa privacidade. De termos direito a informações, sem tanta distorção, por meio de meios comunicação mais honestos e democráticos que os atuais.

Você até pode ficar com sua reputação “’aparentemente intacta” com a declaração de “neutralidade”. Sem ‘sujar as mãos’, tomando uma posição. Mas no fundo da consciência você sabe que o que você chama de neutralidade é apenas um profundo medo. E sabe que a sua “imparcialidade”, em verdade, reforça um dos lados que está, neste momento, em posição de ataque. Dizer que é tudo a mesma coisa, que são todos iguais, que todo mundo rouba é justificar o descumprimento das leis e só piora a situação em que nos encontramos.