quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Progride



Vai, anda logo
Progride
Que a vida não é assim tão quimera
Decide, coopera
Só assim existe algum valor na espera

Vai logo, anda
Em frente
Que o mundo não é pra quem só critica
Consente, medita
O puro ócio evita

Vamos contentes
Não há chance para quem só se lamenta
Constrói, desmente
Supera a tormenta
É caminhando que o desespero se enfrenta.


Jean, início dos 1990.

Teu sorriso




Quero estar com você
Teu sorriso me faz perceber
Que este mundo não vai se acabar

Quero sair com você
Tua palavra me faz crescer
E a vida só faz ensinar

Quero ficar com você
Teu corpo me faz gemer
O êxtase não demora a chegar

Quero brincar com você
Tua alegria me faz ceder
Por que a felicidade não é um estágio a alcançar

Quero sonhar com você
Os teus olhos me fazem querer
Por que sempre o melhor é amar


Jean Moreno, 1993

Almofadas (memórias da adolescência)



Eram os finais dos anos 1980.
Eu trabalhava em um banco e fazia escola técnica à noite (acho que era o 1o ano do antigo 2o grau).
Morava em um condomínio de apartamentos pequenos (60 m2) de classe média baixa (ou classe pobre alta, como queiram) em um bairro de S. J. dos Pinhais.
Depois da aula e de enfrentar 45 minutos de ônibus de Curitiba e mais um trecho a pé, reunia-me com alguns colegas mais velhos, geralmente no ap. de uma amiga que tinha, para nós, o grande privilégio de morar sozinha.
Deitávamos sobre as almofadas e ficávamos divagando horas.
A música era indispensável.
Ouvíamos de tudo.
Amigos e amigas colaboravam com seus discos com capas maravilhosas.
Era um pano de fundo para boas conversas esotéricas, sonhos grandes ou pequenos, alguns flertes. As noites eram geralmente frias.
Amigos e músicas para esquentar.
Lembrei-me desta canção, hoje.
Esforçava-me por entender a letra.
Era bastante ingênua, mas bonitinha....  como a adolescência.
Adeus estranho.


Jean Moreno, 24/08/2010.

Para Izabel





Tua luz é o que me acrescenta
Ontem, hoje...
Teu desejo me surpreende
Sempre, sempre...
Minha casa
Minha morada encantada
Minha eterna namorada
Que o teu olhar também seja o meu
És o meu mundo
Meu aconchego mais profundo
Cobertor, fuga do breu
Princesinha,
O mistério mais fecundo
É quando, por um segundo,
Me calo com um beijo teu.


Jean Moreno, sem data

ARTE




O isolamento de partes do mundo é só para fins didáticos.
Na realidade não há campos isolados.
Não há arte sozinha, nem religião, nem economia, nem política, nem educação.
O mundo é um todo intrincado, complexo.
Para entendê-lo, a análise é um recurso possível.
Dividir em várias partes.
Mas a visão geral também tem que ser buscada.
Ainda que pareça impossível.
Para mim, o campo de visão mais completo ainda é o da Arte.

Jean Moreno, 2010

Falta




Com tantas perguntas
Faltou ir atrás da resposta
Faltou obter
Com tantas angústias
Faltou confluir a proposta
Alguma coisa sempre fica faltando.
Sempre.


Jean Moreno, 1995

terça-feira, 29 de setembro de 2015

SILÊNCIO





Dou-te agora como resposta
O meu silêncio
Como a flor que se leva à sepultura
Vai com ele o meu perdão
A porta aberta é minha boca que cala
E o choro trancado, a esperança
Que tua indulgência te renove
Que tua paciência te renove
Como a flor que se leva ao primeiro amor.


Jean Moreno, sem data

Fel




O teu fel
Antes de queimar a mim
Corrói tua própria língua

O amargo de tuas palavras
O desamor que demonstras
Expõem como é tênue a crosta
Que te separa de tua aparência

Todos nós resplandecemos o que somos uns aos outros
Mas à alma no espelho encaramos sozinhos
As feridas que nós mesmos provocamos
São as que demoram mais para cicatrizar


Jean Moreno, sem data

Vento




Assim como o vento
Que desfolha árvores
Que lambe vidraças
Que refresca mentes
Desfaz penteados
Assusta gente
Espalha sementes
Arrasta telhados

Assim são as provas
De quem preso
Pela atmosfera traz
Renovação sincera
Num desalojar
De comodidades
De caminhos fáceis
De conversas fúteis

Germina na noite
Na angústia leve
Contrariado
Resignado
Mas não derrotado

Desperta
Como poesia
Dita por criança
De rima fácil
Forte na lembrança
De coração sereno
Que por vezes erra
Mas vive tentando
Na melodia Terra
Da canção solar


Jean Moreno, 02/02/2005

Oferenda





Minha pobreza é tanta
Que diante deste altar
Só posso oferecer meu esforço
Para conquistar as coisas que me cabem

Minha pobreza é tamanha
Que diante de Ti, como filho,
Só posso oferecer o amor e a gratidão
Pelos pais que me deste para orientar-me os caminhos

Minha pobreza é tão grande
Que neste horizonte,
Como pai,
Só posso oferecer meu esforço, minhas palavras e meu exemplo
Para que meus filhos aprendam
A respeitar os demais,
A colaborar com a vida coletiva
A conquistar, com seu próprio esforço, seu espaço no mundo
E a distribuir amor e serem amados.

Minha pobreza é muita,
Meu espírito tão pequeno,
Que posso Te oferecer tão pouco
Minha gratidão e minha perseverança
Na busca da Verdade que És,
Minha honestidade.
Ajudar a distribuir Tua Paz
Onde quer que esteja
Acender a candeia, espalhar e receber Tua Luz.

Jean, 10/04/2013

Sereno



Já aprendi que há coisas que não entendo.
Não entendo e pronto.
Se algum dia vou conseguir compreender, não sei.
Tudo é provável no tempo infinito.
Não se trata de um desistir de perguntar, mas de admitir a limitação.
Não entendo.
É só isso.
A vida também pode seguir serena assim...
Por que não?

Jean Moreno, 29/12/2012

Tempo




O amor se constrói aqui e agora.
O amor distante é sempre mais fácil e mais ilusório.
O verdadeiro amor se desenvolve no tempo e se prova no cotidiano.

Jean Moreno, 17/09/2012

Alegria





Sim pode haver alegria talvez.
Nos mundos, submundos, hipermundos.
Naquilo que permanece sempre transformado.
O átimo, a contemplação profunda, o não-tempo. 
Jean Moreno, junho de 2010.

Inacabado



Há um rio
Uma vontade
Uma viagem de ônibus
Pelo interior
Há uma força
Uma imagem
Há algo que se mostra inacabado
Reconstruível....


Jean Moreno, 16/12/2008

Madrigal



Eu sou o algo do mundo
Um madrigal
Assim como uma paz,
Uma mágica
Eu sou a voz
Como éramos
Eu sou o tempo
O encanto presente
Antes, um dia de verão
Eu sou o algo de meu mundo
Um segredo de criança
O fogo queimando na fogueira
A noite
O caçador do amor
A esquina do universo
Eu até fui algo em seu mundo
O fado
O agosto
O chá do interior
A fome
Assim como o rei
Do país sem olhos.


Jean Moreno, sem data

Aroma



A flauta ressoa a derradeira nota
E meus ouvidos não a percebem
A flor derrama a sublime cor
E meus olhos não a percebem
O último poema,
O doce sabor,
A textura transparente...
Nada,
Nada, neste momento,
Supera teu aroma encantador.


Jean Moreno, 07/4/1997

No silêncio da vida





No silêncio da vida
Quando a boca fecha
Quando o coração duvida
E a mente cessa
Grita-me algo
Não sei de onde vem:
Acorde rapaz, vai perder o trem!


Jean Moreno, 1991

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Passa adiante



Cada sorriso é um incentivo
Que irradia por onde passa
E ilumina todo ser vivo


Jean Moreno, 1994

Espelho



Não era eu
Que era
Outro
Que era
Outro que
Não
Era eu que era
Naquele dia
Não era
Eu que
Era eu que não
Outro que
Era não


Jean Moreno, 1996

Inesperado



Há algo de novo
Que eu não sei explicar
Sei lá, uma névoa
Um novo jeito de sonhar

Há algo de novo
Que eu não sei explicar
Sei lá, uma trégua
Uma nova chance pra dar

Há algo de novo
Que eu não sei explicar
Sei lá, uma régua
Que acabou de quebrar


Jean Moreno, 1993

domingo, 27 de setembro de 2015

SEDE





Hoje tenho sede
(E como a sede é diferente da fome!
A fome dói e a sede angustia)
Hoje tenho sede de tanto que há por fazer
Tenho sede daquilo um dia fui
Tenho sede
A sede arde
Seu desejo é o refresco, a brisa, a água pura
Sede que hoje me procuro em ti
Tenho sede de teu beijo, de teu sorriso
Hoje
Como uma necessidade.
Sede.
Sede, nesta viagem sem tempo.
Sede de sentir.
Sede de mim mesmo.
Sede que te encontro em mim.

Jean Moreno, 10/05/2012

Terra



A terra em que nasci
Não foi a terra que adotei
Como minha face mais visível.
Mas, por que sendo assim,
Transmutável,
Guardo um pouquinho de cada lugar
Refletido em meus olhos.


Jean Moreno,  1994

Princípio



No princípio era o nada
Como apenas um avistar no horizonte
Então se fez o ser
Como descobrir-se tão sal e doce
Depois veio o estar
Feito um querer ser verticalmente
Agora se faz o amor
Então no princípio era tudo
E depois veio o outro
E no futuro fez-se mais.


Jean Moreno 1995

Navio



Eu fui
A intriga
O intrigante sorriso
As tramas
As tranças dos cabelos negros
A fada
O navio
A cor e o vazio
(a boca e o coração)


Jean Moreno, 23/09/1997

Navegar





Necessário e impreciso... navegar a vida...


Jean Moreno, 15/09/2014

Poema




O poema não cheira
O poema está no estado gasoso
O poema não antecede
O poema procede
O poema não é gozo
O poema alívio tampouco é
O poema não é problema
O poema não é solução
O poema, às vezes, soluça
O poema não é carapuça
O poema não é álcool
O poema não é outra droga
O poema não é comida
O poema não é mulher
O poema é espírito
O poema não é sol
Também não é chuva
O poema não é noite
O poema não é lua
O poema não cheira


Jean Moreno, sem data

Mar



Perto do mar
Onde, é claro, também há pecado
Mas, antes de tudo, perto do mar
Trabalhar perto do mar
Onde nosso tempo também é comprado

Perto do mar
Errar perto do mar
E depois me regenerar com um mergulho
No mar
Amar no mar
Viver e renascer do mar
Sempre renascemos
De pelo menos um pedacinho
(e cada um tem o seu pedacinho)
De mar


Jean Moreno, 1995

Êxtase




Quero estar com você
Teu sorriso me fazer viver
Por que este mundo não vai se acabar

Quero sair com você
Tua palavra me fazer crescer
Por que a vida só faz ensinar

Quero ficar com você
Teu corpo me fazer gemer
Por que o êxtase não demora a chegar

Quero brincar com você
Tua alegria me fazer ceder
Por que a felicidade não é um estágio a alcançar

Quero sonhar com você
Os teus olhos me fazer querer
Por que sempre o melhor é amar


Jean Moreno 1993

sábado, 26 de setembro de 2015

Somos todos políticos



Não é bom o clima da política brasileira atual.
A raiva da direita antipetista alimenta ódios e ignorâncias muito parecidos com aqueles que derrubaram o presidente João Goulart em 1964.
O que mostra que nós professores ainda temos muito a aprender para formar uma sociedade com espírito democrático de fato, que saiba conviver com as diferenças e tomar uma posição sem precisar demonizar o outro.
Impossível ser educador sem utopia.


Jean Moreno, 26/10/2014

Canção



Sobrava ainda aquela canção
E era tudo
Restava a Essência
Já se havia esgotado tudo
Não havia por que se esconder
Atrás das frases colossais
Agora o que se era, se era
E o que nunca se imaginava
Aquela canção,
Que nunca se prestava atenção,
Aquele assobio da natureza,
Que voltava e ia por onde vim,
Era o que era
Estrada, pó, saudade, enfim.


Jean, 20/03/1999

A mudança




A mudança
Cama, cachorro, despensa
Tudo muda até o que se pensa
A mudança
É o que acontece a todo instante
E o que se foi a um tempo distante
A mudança
É a resposta que ouve agora
Não é o que vem de fora
A mudança que se almeja
Seja


Jean Moreno, 1993

Arco-iris




Havia a água
E isso já me bastava
Naquele tempo
Nascia-se no campo
E éramos sementes

Havia algo
Mais que isso
E éramos arco-íris
Em festas de Santo Antônio
Resplandecíamos sob a lua

Não havia nada
Apenas flores de festa
E este passado

O que presencio agora
Me assombra
A igreja que resta
A fresta e a penumbra
E aquele seu sussurro
Que era minha canção predileta.


Jean Moreno, 20/03/1999

Escritos da adolescência



Veja o que vejo neste momento
Todas as pessoas em perfeito movimento
Vindo a meu encontro como flechas
Olhando-me como se eu fosse louco à beça

No rosto, a vergonha de estar lúcido
Enquanto todos estão num crepúsculo
Viajando sem abrir os olhos
Fantasiados, ah meu Deus, de repolhos!

Acordem, vocês estão todos loucos
Parem, aproveitem nossos instantes poucos!
Penso e não entendo
Por que todos vêm assim correndo?

Ao menos as flechas não me acertaram...


Jean, aos 16 (1990)

Relógio ao avesso




Um deus da astrofísica
Um arqueólogo do futuro
Um pintor de imagens em movimento
Um guerreiro da paz
Um arquiteto de sons
Um costureiro de palavras


Jean Moreno, sem data