Domingo,
Como sempre levanto às seis da manhã.
A dor de cabeça de uma
noite mal dormida e de uma cama espremida a três faz-se presente.
O futuro ainda é uma incógnita.
A dor de cabeça aumenta
Para diminuir a escuridão, ligo a TV.
Realmente a televisão
é uma luz.
Começo a me sentir capaz de intervir no meu destino novamente.
Depois de refletir um pouco, percebo minhas opções: a missa dominical e as
declarações de conversão dos neo-pentecostais.
Decido-me, dentro de meus
direitos democráticos, desligar a televisão.
Cato alguns comprimidos na estante (eles sempre estão à
mão).
Engulo-os com um pequeno gole de água e sento-me no sofá.
Resolvo dar uma
espiada para fora da janela: tradicionalmente tempo nublado e frio em S. José
dos Pinhais.
O tempo passa devagar.
O tempo passa depressa.
Começo a enumerar as demais opções: leituras, estudos,
afazeres domésticos, limpar o quintal.
A dor de cabeça continua.
Uma boa opção
seria uma viagem.
Desemprego, falta de dinheiro: sem perspectivas.
Ah, uma
viagem seria maravilhoso.
Começo a imaginar florestas, praias, lagos, mundos
encantados... o simples prazer de estar num veículo deslocando-se para algum
lugar.
Me aconchego no sofá. Fecho os olhos... o domingo começou a
melhorar.
Jean Moreno, 1993