sábado, 31 de outubro de 2015

Fora do Tempo



Sou um hippie fora do tempo.
Gosto de canções em torno da fogueira.
Gosto de ver o belo luar do interior.
Gosto de sonhos ingênuos.
De conversas profundas e despretensiosas com os amigos.
Pelo direito dos anacronistas.
"E toda noite será eterna como um sonho..."


Jean Moreno, Abril de 2010

Saudades da chuva





São vários olhares
Espreitando-me
Lá fora só o barulho da chuva
Entre as árvores que balançam
E o meu eu ausente
A janela embaçada

São vários olhares e todos me enxergam
Por que eu agora sou só dentro
Por que eu agora sou translúcido
As vozes atravessam-me
Trazendo recordações
E presenças sinceras

São vários olhares
E uma só a música
Mais potente que qualquer lente
Matéria fina
Para escrever não é preciso luz
Apenas o ar para a música

São vários olhares
As lembranças se misturam
Assinaturas do eu que procuro
É preciso ser mais
Como a árvore que canta
Como a chuva que dança
Nada mais impreciso
Que o futuro
Como a sensação tátil
Como um convite
Com a certeza de que a água continuará correndo
Fluídica matéria
Cristalina
As letras as águas levarão

São vários olhares
E a chuva


Jean Moreno, junho de 2001

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Arandu Arakuaa


Flores




Tudo está muito banalizado
As músicas, os sons, os odores.
Tudo está muito consumível,
É preciso estar mais acordado
para o lado de dentro
Para ouvir, ver e sentir
a valsa das flores.

Tudo está muito rápido
O tempo, o coração, os amores.
Tudo perto, mas muito ausente
Tudo aqui e muito distante
É preciso estar sonhando
com os sentidos abertos
Para ouvir, ver e sentir
a valsa das flores.

Jean Moreno, 05/03/2014

Decidi




Fazer do perdão meu rubi
E que não haja cisão
Por que já me decidi
Te seguir e navegar
Te sentir além daqui
Seja no ultra-violeta
Ou no azul noturno


Jean Moreno, sem data

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Rio



O rio poluído
As máquinas e os tratores
Os operários
E seus capacetes de várias cores
As pernas e os braços quebrados
O rio continua poluído
Muito, muito poluído.


Jean Moreno, 1995

terça-feira, 27 de outubro de 2015

CAI O REI DE PAUS






A coragem é um das qualidades principais dos seres humanos.
Só quem tem muita fé pode ter muita coragem.
A coragem não é o contrário do medo, mas da covardia.
Infelizmente poucos têm coragem para se posicionar.
Viver a partir de princípios como a honestidade e a justiça ainda é para uma minoria.

Apesar de a letra parecer, a princípio, denotar algum receio, Elis precisou de muita coragem para interpretar esta canção em plenos anos de chumbo. Por isso que elas - a canção e a cantora - sempre continuarão vivas. Jean (publicado originalmente em 04/08/2010).

Este post foi dedicado, em 2015, aos professores do Paraná que foram reprimidos com violência em sua justa luta por manter a dignidade da profissão. E a todos aqueles que continuam lutando. Que suas fome e sede de justiça possam ser saciadas.
E que este seja o despertar da consciência de que sem a valorização e o reconhecimento dos trabalhadores da educação, através de condições materiais concretas, não há como traçar qualquer expectativa de desenvolvimento social, econômico e ético.

Jean Moreno

Destino




Um trem
Que nem tem
Que nem tem
Destino certo

Um relógio
Que nem fique
Que nem vague
Por tempo incerto

Uma goteira
Pingue
Pingue
Por este deserto


Jean Moreno, 1994

Nas noites do presente




Nas manhãs do passado
Não foi tudo pragmático
Houve o que houve
Não num sentido estático

Nas manhãs do passado
Tudo se pôs na mesa
Nada foi consumido
Algo foi consumado

Nas noites do presente
Cai de novo a máscara
Levantam-se as cortinas
Aparecem olhos, somente

Nas noites do presente
Nas tardes de transição
Colocam-se novos pratos
E percebe-se a semelhança
Entre a uva e o limão


Jean Carlos Moreno, 1994

Um dia



Acho que estou começando a entender o que você quer... 
Apenas um dia perfeito.
Esquecer de tudo.
Nada mais.
Um dia perfeito.
Desculpe por não entender antes.
Apenas um dia.


Jean Moreno, 29/11/2010

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Minha / Nossa



Se essa frase fosse minha
Com todas as palavras
Não desandava com o vento
Se essa frase fosse minha
Seria ao menos coerente
E tentaria o equilíbrio
O maior problema é saber se,
Se essa frase fosse minha,
Ainda que coerente,
Ainda que equilibrada,
Não seria mais de ninguém?


Jean Moreno, 1994

domingo, 25 de outubro de 2015

sábado, 24 de outubro de 2015

Conhecimento






Há tanto por saber no universo... fecharmo-nos em nossas pequenas verdades deixa pouco espaço para o nosso próprio crescimento e ainda há muito o que aprender.

Jean Moreno, 29/09/2013

SENTIDOS




Dança das cores




Branco – todas as cores
Azul – todos os olhares
Violeta – apenas o fechar dos olhos

Jean Moreno, sem data.

Trabalho




Trabalho intensamente.
Não para ganhar dinheiro, mas pelo prazer de fazer bem feito o que entendo por meu dever.
Trabalho por que gosto de meus alunos, por que escolhi ser educador.
Meus textos, minhas aulas e minhas orientações têm que ser a expressão do melhor que eu posso fazer.
Cada detalhe do que faço, de lavar a louça a cortar a grama da casa, é uma expressão do meu amor.
Aprendi isto com uma freirinha que me deu aula de catequese quando tinha 7 ou 8 anos.
Ao lado da igrejinha azul ficava um barracão sem paredes, com bancos de madeira improvisados.
Lá, crianças descalças ou com chinelos havaianas (que, na época, eram os mais simples e baratos), ouvíamos historias e cantávamos canções alegres.
Ainda há muita exploração do trabalho no mundo privado e também negligência em alguns setores públicos.
Chegará um dia que todos se esforçarão uns pelos outros.
E assim haverá tempo de sobra para boas conversas, ver as estrelas, namorar e apreciar as músicas celestes.
“O trabalho é o amor tornado visível”(Khalil Gibran).


Jean 21/11/2010

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Internet


malvados3


A internet, os comentários de notícias, etc. não refletem a opinião pública. Muitas das vezes, apenas pessoas muito radicais, fúteis e que formam seus argumentos a partir de uma quantidade mínima de informações superficiais expressam sua opinião na rede.  Discutir com elas é perda de tempo. Elas se escondem no anonimato. A maioria não teria coragem de se expressar da mesma forma num debate público aberto, até por que não teria argumentos senão a gritaria espalhafatosa. Poupemo-nos destes embates inúteis. Contudo, a rede pode ser um instrumento maravilhoso de troca e embate de ideias em grupos destinados para tal fim, onde podemos aprender com pessoas que trazem argumentos mais profundos. Rompamos com a preguiça e sintonizemos com propostas mais equilibradas. Se não temos esta condição, é melhor desligar a máquina na nossa frente e dar uma caminhada lá fora. Ao menos do ponto de vista da aprendizagem e da recomposição de forças é muito mais salutar.


Jean Moreno, 27/03/2014

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Para-raios


"Invenção da Cor" - Hélio Oiticica

Sensações, experimentos, experiências.
É isto a arte.
O belo pela frente ou pelo avesso.
Marginais heróis.
"Haverá paradeiro para o nosso desejo" antes do fim ou do início de tudo?


Jean Moreno, 25/08/2010

Mágica



Pirlim pim pim
Que mágica a mágica que faz mágica assim.
Pampam pam pão
Que trágica a tragédia que nos traga então?
Gritos mágicos
Suspiros trágicos
Olhos acompanham o mundo
E assim a vida passeia


Jean Moreno, 1996

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Fruição

O Pablo Picasso alagoano
Os Camponeses - Orlando Santos


Ver, sentir, pensar o mundo.

Arte sobre a arte.




Jean Moreno, Abril de 2010

Alívio




As razões de tudo no Universo - batalhas, alegrias desafios - ainda são ocultas às nossas pequenas mentes.
Pode-se, ao menos, tentar amenizar o sofrimento uns dos outros.
Deste poder divino, compartilhamos.


Jean Moreno, 17/12/2010

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Ouvir



Não que eu ouça muito bem.
Mas me coloco disponível.
É só falar com calma.
Como todas as artes, ouvir exige concentração.

Jean Moreno, 04/10/2011

domingo, 18 de outubro de 2015

memórias





Só com as lembranças podemos atravessar a ponte.
Algumas são tão fortes que impregnam nosso corpo.
São nossa história incorporada.
Outras ficam mais escondidas, agindo ou aguardando, mas vivas.
Lá estão no fundo do porta-retratos....

Jean, 17/02/2011

Tempestades




As tempestades também são preciosas.

Assim como as calmarias.


Jean Moreno, 20/02/2014

Ar



Quando o ar puro chegou
Eu nem pude conter a lágrima
Em veias, pulmões, glóbulos, tecidos
Eu nem pude me conter
Quando o ar puro chegou
Em brisas, ventos, chuvas
O ar puro
Eu não mais cabia em mim


Jean Moreno, 31/5/1997

sábado, 17 de outubro de 2015

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Naturalmente




Não sou contra o desenvolvimento tecnológico. Ainda que a custa de muito sofrimento, hei que conhecer que a industrialização nos trouxe grandes benefícios. No entanto, parece que chega a hora de recompor nosso elo sagrado com a natureza, que foi quebrado pela modernidade.
Quanto a este tema, temos um impasse em nosso país. Uma grande parcela da população sempre foi alijada do mercado consumidor e dos bens materiais mínimos. Agora que os níveis de renda e crédito indicam que estamos conseguindo ultrapassar ao menos a linha da miséria, como dizer a todos que não embarquem na onda de consumo desenfreado?

É preciso que trabalhemos para fazer aflorar outras formas de consciência em que nos vejamos como parte integrada desta natureza que herdamos. Gratidão pelo que recebemos. Abrir mão de desejos comodistas. Oferecer algo em troca. Amar sem destruir. Rio, árvores, florestas, jardins, praias, montanhas, hortas, pássaros. Todas as formas de vida.

Jean Moreno, 23/02/2011

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Agora




Farei agora da minha canção
O som do vento
E de meu sonho
Só a garoa
Que cai ao relento

Farei agora de mim
Meu lado mais belo
Nem ópio, nem álcool,
A razão mais suave
E o coração mais sincero

Farei agora de minha oração
O momento mais profundo
E do meu reconforto
O saber ser pequeno
E do tamanho do mundo


Jean Moreno, 1994

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Obrigado




Parabéns aos colegas, amigos, alunos e ex-alunos que se dedicam à árdua tarefa de serem professores e professoras. Eu sei que a força das ondas por vezes nos impele a abandonar o barco. Inegavelmente temos que lutar sempre por melhores condições em nossa profissão. Mas, em tudo fazemos uma escolha e a nossa nos exige uma visão de longo prazo e certo altruísmo no sentido de construir, ainda que a duras penas, um projeto coletivo de mundo. Aos que fizeram esta escolha meu muito obrigado por ao menos tentar levar alguns valores, esclarecimento, autoestima e conhecimento a mim, aos meus filhos, aos meus amigos e filhos dos meus amigos, vizinhos, parentes, conterrâneos e a todos os outros a quem estamos ligados, queiramos ou não, por este laço invisível ao qual chamamos de sociedade.

Jean Moreno

Livro





As dificuldades são muitas... mas o negócio é não desistir.
Não levar tão a sério alguns desafios.
Aprendentes, construímos o nosso livro paulatinamente.
E a qualidade da narrativa passa em primeiro lugar pela autoavaliação.


Jean Moreno, 18/04/2013

Sobrevivente





Dos náufragos serei o mais próximo (mas nem sempre um deles).


Jean Moreno, sem data

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Procura



Composição: Desarrazoados; Jean Moreno; Fabrício Pascoal
Interpretação: Os Desarrazoados (Flávio Ruckstadter - vocal e violão; Aline Trigo - violão; Luis Barnabé - baixo; Vanessa Ruckstadter - bateria e percussão)


Quando me perdi de mim?

Quando não encontrei mais

O fundo, o profundo, a amplitude?


Quando de mim me perdi?

Quando o medo se impôs

Com seus dentes raivosos?


Quando de mim não achei

Mais do que um grito

Sem eco, a se perder num horizonte derramado em som?


Quem pôs minha alma exposta na praça?

Assim, pega de surpresa,

Tão despreparada?


Quando meus olhos perderam-se ao vento?

Quando a luz, enfim, foi apagada?

Meus pensamentos foram dados a outros,


E até mesmo a porta trancada?

De todo amor






Composição: Jean Moreno; Fabrício Pascoal
Interpretação: Os Desarrazoados (Flávio Ruckstadter - vocal e violão; Aline Trigo - vocal; Luis Barnabé - baixo; Vanessa Ruckstadter - bateria e percussão)

De todo amor,

Que será feito?

Espelhos de barro?

Catarses no leito?

Alegria na dor?


De todo amor,

Que mais resta?

Janelas de água?

Migalhas na festa?

Sombra na cor?


De todo amor

Só quero um pouquinho

(não sou egoísta)

Daquele que é meu

Daquele que é meu

Pra ser o que for

Seja como for.



De todo amor

Só quero um pouquinho

Daquele que é nosso

Preso nos dentes


Cozido a vapor

O tempo





Composição: Jean Moreno e Fabrício Pascoal
Interpretação: Os Desarrazoados (Flávio Ruckstadter - violão; Aline Trigo - vocal; Luis Barnabé - baixo; Vanessa Ruckstadter - bateria e percussão)



Agora...

A água que escorre é o tempo

A légua que sobra é o tempo

A língua que cala é o tempo


A dança que embala é a espera

A crença que inspira é a espera

A benção que sopra é a espera


A seta que falta é a cor

A meta que esconde é a cor

O afeto que busca é a cor


O que se vive é a cor

A cor é o que se vive agora


Agora...

A língua escorre, espera

A água sobra, espera

A légua cala, espera


A crença sopra a cor

A dança embala a cor


A benção que inspira é o tempo

A meta que falta é o tempo

A seta que busca é o tempo

O afeto que esconde é o tempo



Agora,



O que se contempla é o tempo....

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Psicanálise rural





Ói, ói,
O que aqui dói
Não tem explicação
Não me venha com psicanálise, não.
Por que ói, viu, ói
O que aqui dói
Não se entende
Apenas se sente.


Jean Moreno, 1993 

Dentro



E meus olhos o que procuram pelos céus interiores?
Alguma coisa ainda falta....
Mas, vim aqui para dizer sim, e digo sem medo.

Jean Moreno, 05/11/2011

domingo, 11 de outubro de 2015

Um dia conseguiremos




Não sonho com um mundo perfeito pra já, apenas pequenas melhorias que são possíveis se todos quisermos.
Discordamos em muitas coisas, mas não custa ter respeito pelos outros.
Temos aparências, gostos, gestos, credos diferentes uns dos outros.
Mas há valores mínimos que podem facilitar a nossa convivência: a honestidade, o respeito pelo espaço e pelas coisas públicas e, especialmente, pela dignidade de cada ser que compartilha conosco a convivência neste pequeno e belo planeta.

Jean Moreno, 11/08/2010.

sábado, 10 de outubro de 2015

Imanência





O silêncio, a perfeita imanência do átomo de azoto.

Jean Moreno, sem data

Universo





No Universo tudo é solidário e nossa tarefa é aprendermos a – e aceitarmos - ser, por vontade e decisão, parte ativa desta reciprocidade infinita.

Jean Moreno, 26/08/2013

Aforismos



O doce não é o segredo, mas a dor.

Intimidade que temos com os animais.

Jean Moreno, sem data

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Saudade II



Anoitece.
Que gostoso!
Lembro-me de minha infância.
Com um quintal envolto de saibro e um canteiro de flores; um pequeno gramado quarador; duas leiras; duas bananeiras e meu belíssimo ingazeiro.
Sem esquecer das goiabas, é claro!
O que me dá mais saudade é do jogo de bola, dos parentes reunidos, do luar, dos vaga-lumes, da inocência e da cabeça livre

Jean Moreno, 1994.

inícios




1985 - 11 anos
Quantos amores, quanta energia, quantos sonhos cabem nesta idade?
Quantos anos cabem nestes sonhos?
Quantas vidas cabem nesta energia?
A que tempo pertencem estes amores?


"Tudo que é mutante muda amando alguém..."

Jean Moreno, 10/02/2011

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Sedimentos



Mórbidos sentimentos
Fazem desabrochar mais esta linha
Feitos de sedimentos
Corvo, cova, caninha

Desejos de momento
Revelam destroços d’alma minha
Aparecem sem consentimento
Chuva, cheiro, calcinha

Medo de desalento
Fruto de certa experienciazinha
De loucura por tormento
Chaga, salmo, sardinha

Certo que me apresento
Nu nesta tardinha
Quase que sacramento
Rato, rito, rainha


Jean Moreno, 1996.