domingo, 16 de agosto de 2015

Carinho




Ele andava em busca de carinho.
Uma palavra, um toque, um sussurro, uma atenção.
Em troca oferecia-se por inteiro: alma, espírito, afeto, corpo, companhia.
Ele procurava um olhar mais profundo, uma compreensão.
Ele sabia que seu peito estava prestes a explodir.
A garganta cada vez mais presa e dolorida.
O choro, o urro do leão enjaulado.
Descobriu que também precisava daquilo que ofertava.
Ele andava, perambulava pela noite.
Pelos lugares sujos e pelos iluminados com a mesma angústia e com o mesmo olhar lacrimoso.
Ele andava pelo tempo.
De onde o mar revolto?
Andava de mansinho, espreitando a imensidão do espaço.
Ele andava em busca de carinho.
Contava à árvore que, por vezes, também sentia medo da vida.
Um medo inexplicável que vinha lá de dentro.
Caminhava, encontrava outros seres e sempre tomava a iniciativa: _ como está, tudo bem? _ Conte-me suas dificuldades, ouvirei com deferência.
Ele andava em busca.
Palavras lhe faltavam.
Silêncios entremeavam sua fala, como se estivesse procurando em vão o fundo mais fundo.
Ele pensava em fuga.
Uma Pasárgada escondida, um hospital, um templo


Jean Moreno, 22.09.2013

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