Diante de todos os problemas, nada como as boas lembranças.
Fui neste show do Caetano em 1992; chamava-se Circuladô. No Teatro Guaíra.
Consegui um bom desconto, mas fiquei numa fileira mais ao fundo. Fomos eu e Izabel.
Eu tinha os cabelos compridos e usava uma camisa em tom jeans claro que havia
ganhado de minha mãe. Antes de "Debaixo dos Caracóis", Caetano falou
de Roberto Carlos e da interpretação dos tropicalistas sobre a ditadura na
época. Disse que para eles o regime ditatorial vinha das energias mais
profundas do ser brasileiro. Lembro-me bem disto. Entendi na hora que o
autoritarismo vem do desejo tanto daqueles que mandam quando dos que
obedecem. Como dizia Joaquim Nabuco, a escravidão deixou marcas (quase) indeléveis
na cultura nacional. A execução da canção foi emocionante. A evocação da
dolorosa presença do exílio e a manifestação de solidariedade de Roberto e
Erasmo, que muitos (eu também, na época)
consideravam completamente descomprometidos, tocaram a todos.
Jean Moreno, 12/08/2010
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