quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

cabelos



Diante de todos os problemas, nada como as boas lembranças. Fui neste show do Caetano em 1992; chamava-se Circuladô. No Teatro Guaíra. Consegui um bom desconto, mas fiquei numa fileira mais ao fundo. Fomos eu e Izabel. Eu tinha os cabelos compridos e usava uma camisa em tom jeans claro que havia ganhado de minha mãe. Antes de "Debaixo dos Caracóis", Caetano falou de Roberto Carlos e da interpretação dos tropicalistas sobre a ditadura na época. Disse que para eles o regime ditatorial vinha das energias mais profundas do ser brasileiro. Lembro-me bem disto. Entendi na hora que o autoritarismo vem do desejo tanto daqueles que mandam quando dos que obedecem. Como dizia Joaquim Nabuco, a escravidão deixou marcas (quase) indeléveis na cultura nacional. A execução da canção foi emocionante. A evocação da dolorosa presença do exílio e a manifestação de solidariedade de Roberto e Erasmo, que muitos (eu também, na época) consideravam completamente descomprometidos, tocaram a todos.


Jean Moreno, 12/08/2010

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